OK Computer: A expressão musical do realismo capitalista de Mark Fisher

Henry S. Bernardes
3 min readMar 15, 2023

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“Em um mundo de ruídos e distrações, o Radiohead nos lembra da importância da música como uma forma de conexão emocional e reflexão profunda. Sua música evoca sentimentos de angústia, solidão e desespero, mas também de beleza, esperança e transcendência. Uma banda que desafia as convenções e nos inspira a buscar significado além do superficial.”

Lançado em 1997 pelo Radiohead, “OK Computer”, é um marco na cultura ocidental e assim que lançado, foi considerado um clássico instantâneo do rock e uma das obras mais influentes do século 20.

As letras melancólicas e sombrias, compostas pelos britânicos Thom York e Jhony Greenwood, carregadas por aranjos experimentas, trazem nas entrelinhas criticas a vida nos grandes centros urbanos e a sociedade capitalista, o que é denotado por sua capa.

OK Computer, expõem as aflições e anseios de uma juventude em uma sociedade neoliberal

Por outro lado, o conceito de realismo capitalista, proposto por Mark Fisher em seu livro homônimo de 2009, analisa a cultura e a sociedade sob a lógica capitalista e a falta de alternativas políticas.

Fisher argumenta que o realismo capitalista se baseia na crença de que o capitalismo é o único sistema possível e que a cultura atual é moldada por essa visão de mundo. Em outras palavras, o realismo capitalista nos faz acreditar que não há alternativas viáveis para a organização social e econômica além do capitalismo, levando a uma sensação de impotência política e desesperança.

“Segundo Fisher, o sofrimento sob o neoliberalismo não é apenas uma questão de pobreza e desemprego, mas também de uma sensação de impotência e falta de propósito que permeia a vida cotidiana.

Essa ideia se reflete em “OK Computer” de várias maneiras. A faixa de abertura “Airbag” apresenta um retrato sombrio do mundo, onde um acidente de carro é comparado a uma experiência de quase morte que faz o eu-lírico refletir sobre o sentido da vida. Essa sensação de impotência e medo é constante ao longo do álbum, como em “Paranoid Android”, que retrata a alienação e a falta de sentido na sociedade moderna.

Em “No Surprises”, o eu-lírico anseia por uma vida simples e monótona, que é apresentada como a única alternativa à alienação e à loucura da vida urbana moderna. Essa visão conformista reflete a ideia de que não há alternativas para a sociedade atual, a não ser a busca pela satisfação pessoal em uma vida sem sentido.

Outra música que ilustra a relação do álbum com o realismo capitalista é “Subterranean Homesick Alien”, que apresenta como personagem um extraterrestre que se sente mais confortável em um ambiente artificial e controlado do que na natureza. Essa imagem simboliza a ideia de que a cultura atual nos faz sentir mais confortáveis em ambientes artificiais e controlados do que na natureza, levando a uma sensação de alienação e desapego do mundo natural.

Em seu interlúdio, “Fitter Happier” apresenta uma série de frases repetidas por uma voz robótica que descrevem um estilo de vida idealizado e padronizado.

A letra descreve uma pessoa “mais saudável” e “mais feliz” que segue um conjunto de normas e comportamentos esperados, como fazer exercícios, comer bem, não fumar e trabalhar duro. A música tem um tom quase robótico, dando a entender que essa vida perfeita na sociedade neoliberal deve levar a uma existência mecânica e sem emoções.

Em suma, o disco “OK Computer” reflete a visão de Fisher sobre a cultura e a sociedade sob o realismo capitalista. A melancolia nas faixas retratam a sensação de impotência e alienação que muitas pessoas sentem em relação ao mundo moderno, enquanto a busca por uma vida simples e monótona reflete a falta de alternativas políticas e a sensação de conformismo. Em última análise, o álbum é um reflexo da cultura atual e das limitações que a lógica capitalista impõe sobre a imaginação política e social.

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Henry S. Bernardes

Carioca, analista de sistemas, sociólogo e palpiteiro profissional